quinta-feira, 23 de abril de 2009

CIUME

Aquela situação estava ficando insustentável. E Perigosa. A mulher tinha um ciúme doentio, mórbido, mortal. Era dessas que prometem matar ou mandar matar com os maiores requintes de crueldade e, depois, não fazem a menor questão de se entregar e ficar vinte ou trinta anos atrás das grades.
Farejava longe e andava desconfiadíssima. Aquele nome Carla na agenda do marido era uma obsessão que ficava martelando em sua cabeça, e poderia ser a prova definitiva da traição.
O amigo procurou alertá-lo:
- Você precisa ter mais cuidado, Alfredo. Não facilite. Você conhece a Vanda e sabe do que ela é capaz. Quem avisa amigo é! Apague imediatamente esses nomes femininos da sua agenda. Quando a Carla telefonar, por que você não anota o nome Carlos em vez de Carla? Pra todos os efeitos quem telefonou foi Carlos e assim a sua mulher não vai desconfiar. O mesmo você deve fazer com a Renata, com a Ângela, com a Patrícia, que passam a ser Renato, Ângelo, Patrício, e assim por diante.
A idéia era interessante. E ele começou a proceder como lhe aconselhara o amigo.
Vez por outra a mulher dava uma incerta em tudo o que era do Alfredo, e escarafunchava bolsos, gavetas, carteira, pasta e, principalmente, a agenda telefônica,. à cata de indícios de infidelidade. Mas só encontrava nomes masculinos. E acabava se conformando.
Uma vez, começou a ficar grilada com a grande freqüência com que o nome Paulo aparecia nas mensagens do celular: almoço de negócios com Paulo, jantar de negócios com Paulo, entrevista com Paulo, falar com Paulo, entregar documento a Paulo, etc.Resolveu interrogar o marido:
- Quem é esse tal de Paulo com quem você tanto se encontra, Alfredo?
- É o meu novo chefe lá na repartição, amor!
Alguns dias se passaram de completa calmaria. Estava certo de que tinham se acabado de vez as desconfianças da mulher, e a tranqüilidade voltara a reinar em sua vida. Mas, tanto fez o incorrigível donjuan, que acabou se descuidando e caindo no vacilo de fazer aquela anotação temerária e comprometedora: “ Encontro com Paulo hoje às 20:00h.” Era a peça que a mulher estava procurando para completar o quebra-cabeça de sua desconfiança.
Foi até à repartição do marido, disposta a colocar tudo em pratos limpos.
- Eu gostaria de falar com o Paulo, disse ela nervosa à recepcionista, e sem se identificar.
- Pois não, minha senhora. Só um momento, por favor, disse a simpática atendente.
Momentos depois apareceu um morenão alto, forte, bronzeado, sarado, que falou com voz meiga, quase feminina:
-Muito prazer, eu sou Paulo. E você quem é, posso saber?
- Eu sou a esposa do Alfredo, disse ela levantando a voz.
- Cumé qui é??? Esposa de quem??? Do Alfredo??? Du-vi-d-o-dó! O Alfredo não é casado. Ele sempre me jurou que era solteiro! Aquele cachorro me paga! Quanto a você, queridinha, pode ir tirando o seu cavalinho da chuva, porque o Alfredo já é meu. A gente já está junto há quase um ano. A gente vai casar, entendeu?

No dia seguinte, a folha policial exibia mais uma manchete macabra: “Louca de ciúme, mulher mata o marido com cinqüenta e nove facadas. A vítima teve os órgãos sexuais estraçalhados. A assassina se entregou depois à polícia”

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