sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O dia das Mães de Mãe

Pense num diazim agitado e complicado. Dia das mães com sol já é embaraçoso, imagine você, esse glorioso dia com chuva, muita chuva. Todo dia das mães deveria ser ensolarado, brilhante, lindo, como as mães merecem. Mas, não se sabe o que deu em São Pedro, que não parou um minuto de mandar água o dia todo. Parecia que estavam fazendo faxina no céu. A bíblia não faz nenhuma menção à mãe de Pedro, e sim à sogra de Pedro, que estava de cama com febre alta e Jesus a curou. E, em se tratando de sogra, nem se sabe ao certo se Pedro gostou desse milagre. Será que... bom, deixa isso pra lá porque não é certo brincar com coisa séria; é melhor voltar ao tema.
Não seria nada demais se o dia das mães fosse também chamado de dia do engarrafamento, do entupimento, do corre-corre, do fuzuê, do deus-nos-acuda, do salve-se-quem-puder. Para qualquer lugar que você se atreva a ir, se arrisca a ser atropelado, espremido, chutado, e a ficar engarrafado, preso... sem falar na canseira e quebradeira que vêm depois.
Pra começar, na véspera, pai inventou de dar uma guaribada, um grau na casa. Ele já está escorregando na casa dos 70, mas, de vez em quando, quer dar uma de cavalo do cão, e também não gosta de ser chamado de velho; diz que é apenas avançado em anos...Não está nem aí pros bicos-de-papagaio, de arara e de tucano que tem na coluna Já no finalzinho da tarefa, se baixou prá pegar num sei o quê, deu um estalo no rodapé do espinhaço e pai ficou com a imagem congelada durante uns 20 segundos, sem se mexer, estatelado e com aquela cara de cachorro cagando na chuva.
- É bem arriscado ser hérnia de disco, disseram logo. Ao que mãe foi logo emendando: -Isso é castigo pra ele largar essa mania de comprar disco fuleiro.
A comemoração foi num restaurante chique e, como já disse, debaixo de chuva. Desde cedo, mãe vinha alertando que no dia das mães tudo é difícil, principalmente vaga em restaurante. Portanto, era preciso sair cedo. E foi o que fizemos. Dez horas, e lá estava todo mundo de plantão na porta do estabelecimento, e ainda pegamos a peãozada passando pano no chão e arrumando as mesas. Mesmo assim, deixaram a gente entrar e ficamos acomodados em uma mesa de sete lugares. Pra matar o tempo, ficamos olhando velhas e saudosas fotografias da família, botando conversa fora e pondo as fofocas em dia Não demorou muito e começou a chegar gente de todo tipo, idade e tamanho e, em pouco tempo, o restaurante estava lotado, tipo para entrar um, tem que sair outro, com fila do lado de fora para entrar. Tinha família com dez, vinte pessoas e com membros da primeira, segunda, terceira, quarta geração... de recém-nascido a centenário. Teve gente que achou pouco e levou logo duas, três mães; mãe biológica, mãe-de-criação e até mãe-de-santo. Muitos chegavam com presentes, flores...O que chamou a atenção foi um sujeito que chegou depois com dois quadros enormes embrulhados em papel-presente, com laço e tudo, insistindo em abrir caminho por entre aquele aglomerado de gente para chegar à mesa onde estava sua mãe lá no sul do restaurante, não sem antes acertar alguns empurrões e tacadas na cabeça do pessoal. Daí pra frente foi só barulho, muita gente impaciente, e comida que é bom...A criançada, de garfo e faca nas mãos, aproveitou para tocar bateria nos pratos, aumentando a barulheira. Os garçons estavam mais perdidos do que cachorro quando cai de mudança. Ninguém se entendia e andavam de lado para outro apavorados com tanta gente e sem saber a quem atender. Depois de muito tempo e muita súplica finalmente chegou, para alívio geral, a nossa famigerada (seria mais fomegerada) e tão esperada picanha dupla e, para decepção geral, incompleta e em total desacordo com o pedido, ou seja, pedimos magra e veio obesa e faltando alguns acompanhamentos essenciais. Mãe arretou-se, deu logo um baile e perguntou se a picanha era de tartaruga... se o prato vinha da Amazônia, etc...
Devolve tudo! Antes não tivesse devolvido, porque passou um tempão e nem sinal da nova picanha. Os garçons faziam ouvido de mercador e passavam por nós em alta velocidade, equilibrando enormes bandejas no alto, e de cabeça baixa como se não quisessem ser reconhecidos. O jeito foi abrir o bocão. E foi o que valeu, porque logo acudiu um garçom baixinho, gordinho e simpático, que tomou todas as nossas dores e protestos, prometendo nos atender no melhor do capricho. Recolheu a picanha e os acessórios dizendo que ia trazer logo um produto de primeira e, por incrível que pareça, até que não demorou muito a voltar. Só que o malandro trouxe a mesma picanha, disfarçada, com nova arrumação; tinham feito apenas uma rápida lipoaspiração, por sinal muito mal feita. Não adiantava mais discutir e a melhor alternativa foi aceitar a picanha e tratar de comer porque, a essas alturas, a barriga já estava implorando qualquer coisa.
Foi o mais demorado e tumultuado almoço do dia das mães que já comemoramos. Mas valeu e, no final, terminou todo mundo rindo daquela divertida aventura e com a certeza de que tínhamos procurado fazer o melhor que pudemos para homenagear nossa querida mãe, aquela cujo coração é feito do melhor filé, da melhor picanha do mundo.

José Oilton de Menezes
Maio/2009

Nenhum comentário: