sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Operaçao Capoeira

O que era para ser um simples e rotineiro traslado de uma galinha de capoeira, do centro da cidade do Recife até o bairro de Boa Viagem, uma ridícula distância de 08 quilômetros, transformou-se numa das mais intrincadas, complicadas, arriscadas e folclóricas operações, somente comparável à “Fuga das Galinhas”, envolvendo, nada mais nada menos, que 06 tipos de transporte, 08 dias gastos no percurso e cerca de 20 profissionais, entre batedores, rastreadores, serviço de escuta, radioamadores, matemáticos e calculistas, baú de mudança, bicicleta, moto boy, ônibus, táxi, van, barco, asa delta, monomotor, e até uma equipe de maratonistas de revezamento 4 x 4.
Inicialmente chegou-se até a pensar que a galinha tinha contribuído cobrindo ela própria o percurso de 01 quilômetro com seu próprio vôo rasante e pesado, mas depois se concluiu, pasmem os leitores, que se tratava de uma galinha de aproximadamente 1,5 kg., com mais ou menos 30 cm de envergadura, morta há cerca de 30 dias e mantida sob temperatura abaixo de zero, a julgar pelo aspecto esquálido e livor cadavérico.
Segundo estudos dos matemáticos, projetistas e calculistas envolvidos nessa mega operação, o absurdo tempo gasto para conclusão dessa tarefa, daria, em situação normal, para conduzir e trazer de volta essa mesma galinha ao Japão, usando um único tipo de transporte: o avião. Outro cálculo muito curioso também feito é que 08 dias seria mais ou menos o tempo que uma galinha gastaria para vir andando do centro da cidade até Boa Viagem.
Historicamente essa galinha tinha sido prometida há cerca de 6 meses e dada de presente por uma filha a uma mãe que desejava satisfazer um desejo antigo, ou seja, saborear uma galinha de capoeira.. Só que a ofertante é muito atarefada e, por mais que pensasse, não conseguia encontrar alguém ou algum meio de entregar, com segurança, a encomenda. Para não frustrar as expectativas de sua mãe, ligava quase todo dia informando que a galinha, (primeira informação) tinha sido despachada e que vinha de carona num baú de mudanças. Depois, ( segunda informação) que um ciclista que morava em Boa Viagem tinha se prontificado para trazer a penosa. Depois, (terceira informação) que tinha pago um moto boy e que a entrega ocorreria em meia hora. Depois, (quarta informação) que um motorista de ônibus tinha se oferecido para trazer. Depois, (quinta informação) que tinha fretado um táxi especialmente para fazer a entrega Depois, (sexta informação) que um pescador amigo dela tinha se encarregado de entregar o pacote, cobrindo o percurso a nado. Depois, (sétima informação) que tinha contratado também um instrutor de asa delta e um praticante de vôo de monomotor, garantindo que em coisa de minutos a galinha seria entregue. Depois, que estava havendo uma corrida de maratonistas já em preparação para as olimpíadas e que se ofereceram para trazer correndo a ave até Boa Viagem no sistema de revezamento 4x4 ( ao invés de passar o bastão de um para o outro, passariam a galinha de um para o outro) Só faltou mesmo dizer que a poedeira ia ser entregue via sedex, com pagamento de taxa de urgência.
Por um desses milagres raros do destino a ave ciscante chegou ao destino em razoável estado de conservação ( alguns hematomas, escoriações e uma fratura exposta), depois que todas as esperanças tinha se desvanecido e ninguém esperava mais receber nada.

. Mesmo assim, a mãe, mais que depressa, tratou logo de preparar e temperar a cocoricó que foi, sem meia conversa, devidamente degustada. Como represália justa e oportuna, e como se a galinha ainda existisse, agora vai começar a convidar a filha para um galináceo e supimpa almoço à capoeira.
Adivinhem para quando e de que jeito...

Oilton Menezes
12/02/2009

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