sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O POSTE QUE GOSTAVA DE APANHAR

Parece mentira, mas não é.
Eu sei que é muito difícil de acreditar nesta estória de poste que gosta de apanhar. Mas, nesse destrambelhado e espatafurdio mundo em que vivemos, que eu acredito já esteja no fim, tudo é possível, pois têm acontecido coisas de fazer penico de barro dar pulo mortal.

Um dia desses eu vi na televisão, que uma cadela vira-latas deu cria a um cachorrinho verde. Como era uma cachorra sem estirpe, foram logo dizendo que a coitada, provavelmente, teria ingerido tinta de parede, ou comido alguma comida radiativa e que provocou o fenômeno. Se fosse, porém, uma cadela com pedigree, dessas de madame e que têm certidão de nascimento, com quatro ou cinco sobrenomes de nobreza, certamente diriam que se trata do surgimento de uma super raça de sangue verde. Aliás, por falar em cachorro, lá em Afogados da Ingazeira, cidade interiorana de Pernambuco, vive uma cadela chamada Diana, que é uma das figuras mais famosas da cidade, e que causa espanto a todos, pois, quer chova, quer faça sol, vai à missa todo santo dia, acompanha procissões, enterros, batizados, novenas e, mesmo que ninguém compareça às cerimônias, ela vai sozinha e só se retira quando o padre dá a bênção final. Está dando de dez a zero na cambada de paroquianos que se dizem fiéis e cristãos, mas nunca vão à igreja rezar. É ou não é o fim do mundo?
Mas, vamos deixar de divagações e voltemos ao poste.
Pois bem. Pra vocês não dizerem que eu estou mentindo, eu mato a cobra e mostro o poste: ele é o de número 1031 – 9000 e tem residência fixa na rua Pastor José Amaro da Silva, 112, em frente ao Edifício Costa Blanca, que é o prédio onde eu moro.
Trata-se de um poste adulto e já velho, com identidade e endereço e por isso mesmo deveria ter mais responsabilidade no desempenho de sua funções de clarear a rua. Mas é um poste relapso, contumaz, irresponsável e preguiçoso.
A Celpe já veio várias vezes autuá-lo e até check-up fez nele e nada encontrou de anormal, pois nem mesmo sua lâmpada está queimada. Estaria ele acometido da síndrome do apagão?
Na presença do técnico da Celpe, o safado se acende todo e passa a noite toda brilhando, mas na noite seguinte, quando já não há ninguém observando, o poste, ou melhor, o peste emburra e não acende. Os seus colegas vizinhos, que são dois, mal começa a escurecer, e eles acendem espontaneamente e fazem o seu trabalho direitinho, todos as noites.

Foi aí que o Luizinho, porteiro do meu prédio, intrigado com aquela teimosia do poste que não queria dar a luz, teve uma idéia luminosa: arranjou um pedaço de pau, mais parecido com um tacape e esperou que escurecesse e deu o ultimato ao poste. Como ele teimou em não acender, Luizinho foi até ele e, sem que ele esperasse, desferiu-lhe uma tremenda bordoada abaixo da linha de cintura, tão forte que a pancada ecoou por toda a rua. Não se sabe se de raiva ou de dor, o certo é que não demorou quase nada e o danado começou a clarear devagarzinho e logo ele estava com toda a sua potência de luz e brilho, clareando tudo.

Na noite seguinte, Luizinho esperou a reação do poste, pensando que, depois daquela porretada, o poste se mancaria. Mas, qual o quê! Escureceu e nada do teimoso acender. Outra chibatada, desta feita, na boca do estômago e mais uma vez o poste acendeu ligeirinho.
Foi assim durante quase um ano. O miserável do poste só acendia depois de levar uma boa cacetada. Era mesmo um poste que gostava de apanhar.
Mas, o mais espantoso ainda estava para acontecer.
Conta Luizinho que, certa vez, já era noitinha, dirigiu-se ao poste como de praxe, para dar-lhe a costumeira porrada vespertina . Levantou o braço justiceiro e nem chegou a desferir o golpe, porque ao olhar atentamente para o poste viu que o coitado tremeu e se encolheu todo como se estivesse apavorado e, antes mesmo de receber a paulada, começou a acender rapidamente, o que levou Luizinho a baixar o braço e a concluir que aquele poste era malandro, tinha sentimentos, sentia dor e, como qualquer ser do sexo masculino, morria de medo de levar uma cacetada naquele lugar.

Eu sei que esta estória é muito estranha e difícil de passar pelas tripas de qualquer cristão, mas, em se tratando de Luizinho, que é um baita porteiro, sério e idôneo, é bom não duvidar, porque a palavra dele é, foi e será sempre um tiro, ou melhor, uma cacetada.

2 comentários:

Ildete Medeiros disse...

Oilton, só você para conseguir contar com tanta clareza a saga deste poste pobr coitado. Adorei!
Parabéns, caro amigo!

stenio disse...

Realmente a estória do poste é contada com maestria. Li também a seguinte, das melancias onde é citada Guaramiranga, que é vizinha de onde nasci - Pacoti. Também tenho um Blog mas o link abaixo tá meio esquisito, talvez precise de umas porradas, como o poste.

http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7505926627979081864#editor/target=post;postID=4128333775365272898;onPublishedMenu=posts;onClosedMenu=posts;postNum=5;src=postname